Lançamento do ITDP traz detalhes para que as cidades utilizem ônibus movidos a bateria em sua frota de ônibus. Além de ensinar como planejar as rotas, o estudo também apresenta propostas de financiamento e como carregar os novos coletivos
Para termos cidades mais saudáveis, o setor de transporte precisa não somente acompanhar as discussões sobre as mudanças climáticas, mas também avançar com ações concretas que não poluam o meio ambiente e não afetem a saúde das pessoas. Dado que os ônibus são o modo de transporte mais utilizado no Brasil e no mundo, o caminho para a transformação no setor se dá pela adoção de veículos elétricos em suas frotas.
Com base nos estudos sobre o tema realizados nas cidades em que o ITDP apoia em quatro continentes, elaboramos um relatório que reúne todos os aprendizados e boas práticas realizadas até o momento ao redor do mundo. A publicação “De Santiago a Shenzhen: como os ônibus elétricos estão movendo as cidades” tem como objetivo ajudar outras cidades durante a tomada de decisão para incorporar veículos limpos em sua frota, com informações sobre contratos, elaboração de projetos-piloto, financiamento, carregamento dos ônibus, entre outras questões.
Apesar da rápida transição do diesel para ônibus movidos a bateria em países como China e Chile, muitas pessoas responsáveis por gerir as cidades ainda não sabem como avançar no tema. De fato, a eletrificação é considerada uma tecnologia ainda em fase de aprendizagem, o que gera dúvidas sobre como iniciar a transição energética. Ao mesmo tempo, sabe-se que a eletrificação é uma tecnologia eficaz para solucionar o impacto negativo da emissão de gases nocivos ao meio ambiente pelo escapamento dos ônibus e evitar a principal causa de morte no Brasil.
Calcula-se que até 2025, 39% dos ônibus ao redor de todo o mundo serão elétricos. Em 2040, a expectativa é que este número passe para 67%
A popularidade e notoriedade da nova tecnologia se dá pelos seguintes fatores:
- Maior autonomia, à medida que evoluem as tecnologias de baterias e melhoram as práticas de condução, carregamento e manutenção;
- Custos iniciais decrescentes, à medida que a indústria realiza economias de escala;
- Tomadas de decisão mais bem embasadas, com o aumento da disponibilidade de dados e boas práticas sobre ônibus elétricos;
- Melhor compreensão sobre como usar as tecnologias de ônibus elétricos, à medida que mais cidades conduzem projetos-piloto em contextos geográficos e econômicos diversos; e
- Mais oportunidades de financiamento, mediante fundos de apoio e modelos de negócio inovadores.
Confira o passo a passo que a publicação sugere:
Escolher o tipo de ônibus
Devido a rápida expansão da eletrificação, existe no mercado uma diversidade de modelos de ônibus elétricos. A publicação explora quais são os modelos mais comuns e como cada tipo pode afetar o serviço e a operação. Compreender a variedade existente e combiná-la a necessidade de sua cidade é fundamental para criar o sistema de transporte eletrificado.
Rever os contratos
Embora os contratos de ônibus elétricos apresentem semelhanças com os contratos de ônibus públicos convencionais a diesel, novas partes interessadas e os papéis dos diferentes eixos de atuação (como operação, gestão, carregamento e
manutenção) devem ser considerados. O relatório explica como planejadores podem considerar a entrada de ônibus elétricos dentro dos contratos existentes, e que tipo de mudanças são indicadas para a elaboração de novos contratos. Você também pode saber mais sobre o tema clicando aqui.
Realizar projetos-piloto
Fazer testes é importante, pois permite que os governos, operadores e órgãos responsáveis pelo transporte público verifiquem possíveis modelos de infraestrutura de ônibus, baterias e carregamento de acordo com a sua realidade local. Os testes também permitem experimentar novos cronogramas de operação e manutenção, capacitar funcionários e coletar dados para planejar a estratégia de transição.
Planejar um novo modelo de financiamento
Devido às diferenças em despesas de capital e operacionais de ônibus elétricos e não elétricos, é interessante adotar um novo modelo financeiro. Os custos de capital dos ônibus elétricos podem ser duas a três vezes superiores aos dos ônibus a diesel, ao passo que as despesas operacionais são de uma vez e meia a quatro vezes menores. Devido a isso, o financiamento da aquisição dos ônibus é o desafio mais mencionado pelas cidades na transição rumo à eletrificação. Vale ressaltar que apesar do custo inicial mais alto, os ônibus elétricos costumam gerar uma economia de custos ao longo de sua vida útil.
Criar infraestrutura para carregamento
Eletrificar frotas significa substituir um sistema de ônibus que usava postos de combustível por uma infraestrutura que ainda não foi
construída. Os locais e o tempo de carregamento irão variar de acordo com as características operacionais das rotas. A publicação apresenta quais são os tipos de carregamento existentes, a duração associada a cada uma delas e como planejar a implementação.
Planejar as rotas
A eletrificação é uma oportunidade para as cidades reverem o projeto da rede e o planejamento das rotas. Para isso, o relatório explica a importância de entender qual tipo de infraestrutura de carregamento dos ônibus se adapta às necessidades locais, o nível de potência para garagem de ônibus, momentos mais oportunos para carregar as baterias, quantos ônibus são necessários para suprir a demanda e número de passageiros, entre outros pontos relevantes.
A publicação também reforça a importância de estabelecer uma comunicação transparente com a população sobre as mudanças, que será a principal beneficiária da eletrificação. Disponibilizar dados e informações sobre a melhoria da qualidade do ar, na saúde das pessoas, principalmente idosos, crianças e pessoas pobres e negras, é fundamental.
Outro destaque do relatório mostra a importância de combinar a transição energética com estratégias de apoio adicionais: A eletrificação do transporte público deve ser vista como parte de uma estratégia de mobilidade com emissão zero que vise à criação de redes de transporte urbano mais sustentáveis e resilientes. Por si só, a eletrificação não torna o sistema de transporte mais sustentável. Nesse sentido, medidas de gestão da mobilidade e de integração das rotas de ônibus à rede cicloviária e pedestres devem ser feitas em conjunto aos passos dados rumo à eletrificação.