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Gestão da Mobilidade: conjunto de estratégias para tornar as cidades mais inclusivas para as pessoas

A mobilidade vem se mostrando uma pauta de grande relevância frente aos novos desafios trazidos pela pandemia de Covid-19. Mas a pergunta que fica é: seriam esses problemas tão novos assim ou o período pandêmico somente reforça questões que há anos deveriam receber maior atenção? Pensando nesses desafios, o ITDP Brasil lança a publicação “Gestão da mobilidade para cidades inclusivas“. O documento explora estratégias capazes de tornar os sistemas de transporte mais inclusivos, equitativos e sustentáveis a partir do controle do tráfego de automóveis.

O padrão histórico de evolução da mobilidade urbana há décadas privilegia o uso dos veículos motorizados e restringe cada vez mais os espaços para as pessoas (e seus encontros). Com o passar dos anos e o surgimento e agravamento dos congestionamentos, muito se discute sobre as estratégias mais eficientes para melhorar a fluidez de veículos. Partindo da noção de que para reduzir os congestionamentos são necessárias cada vez mais vias, as soluções usualmente aplicadas tendem a ampliar o espaço viário que rapidamente se torna saturado, em um ciclo altamente prejudicial ao metabolismo das cidades. 

Os impactos causados por essa lógica rodoviarista é sentido por toda sociedade, mas afeta especialmente crianças, mulheres, idosos e pessoas com deficiência. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses grupos são os principais  afetados pela poluição do ar. A baixa qualidade do ar e a elevada incidência de ruídos para o corpo humano são capazes de desenvolver ou agravar problemas de saúde ligados, por exemplo, aos sistemas nervoso, cardiovascular e respiratório. Deve-se também considerar o trânsito como um responsável por um elevado número de atropelamentos, que em muitos casos se desdobram em óbitos (homicídio). O Brasil possui um trânsito altamente letal, matando cerca de 40 mil pessoas todos os anos

Transporte público é a solução

Na contramão dessas estratégias notadamente ultrapassadas, a discussão sobre formas de tornar o espaço viário mais democrático e menos impactante já vem avançando ao longo das últimas décadas, sobretudo na América do Norte e na Europa. Em algumas cidades europeias, em especial, o destaque dado ao transporte público e ativo consegue reverter a lógica rodoviarista, promovendo cidades menos segregadas e mais compactas. 

O professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dr. Ronaldo Balassiano, considera que para a sustentabilidade das cidades, a mobilidade é um fator fundamental. Para ele, a noção de Gestão da Mobilidade passa pela racionalização do uso do automóvel associada à priorização do transporte público coletivo e do transporte ativo. Ronaldo reforça que as cidades precisam ser pensadas para as pessoas, e não para veículos motorizados particulares.

No entanto, o professor sinaliza que no Brasil, um dos principais entraves para a gestão do uso de automóveis é a atratividade dos sistemas de transporte públicos. Com baixa qualidade, conforto e confiabilidade associadas às tarifas cada vez mais elevadas, os modos que deviam ser os mais eficientes se tornam pouco atraentes para a parcela de maior renda, e inacessíveis para a parcela mais vulnerável economicamente. 

A garantia de equidade nos sistemas de mobilidade é um desafio que precisa ser analisado caso a caso. A Especialista em Mobilidade Urbana e Coordenadora do programa EUROCLIMA+ na América Latina, Kelly Fernandes, destaca que no Brasil, diferentemente de muitos países desenvolvidos, temos um padrão de ocupação do território que afasta a classe trabalhadora dos postos de trabalho e demais oportunidades urbanas. Em sua maioria a população periférica é composta por pessoas de renda mais baixa, pretas e pardas. Em um contexto como esse, o preço da tarifa vai aprofundar as desigualdades, pois os periféricos vão arcar com custos maiores, mesmo sendo mais pobres. Assim, a mobilidade que não considera a heterogeneidade do território tende a ampliar a segregação socioterritorial. 

Desta forma, novas estratégias capazes de melhorar a atratividade do transporte público coletivo e viabilizar o deslocamento a pé e de bicicleta precisam ocupar o lugar de medidas que aumentem (ainda mais) o espaço viário para os veículos particulares.

É exatamente em estratégias voltadas ao desestímulo ao uso do automóvel e promoção do transporte ativo e público que foca o estudo Gestão da mobilidade para cidades inclusivas. Com destaque para políticas ligadas à gestão de estacionamentos e a precificação do acesso a determinadas áreas, a publicação busca mostrar os desafios e oportunidades de cada opção, com estudos de caso internacionais ilustrando as iniciativas e contextualizando-as de acordo com as especificidades locais. 

Para aumentar a visibilidade sobre o tema, a equipe do ITDP Brasil inicia uma série de postagens trazendo as principais características das estratégias de gestão da mobilidade desenvolvidas no estudo. Temas como tarifação de estacionamentos, realocação do espaço viário para outros usos e precificação do acesso a determinadas áreas da cidade serão discutidos com o objetivo de impulsionar uma retomada pós-pandêmica menos óbvia e mais inteligente. 

Leia os textos da série:

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