Pegar um ônibus para ir à praia, caminhar pela rua para chegar à escola ou pedalar até o parque podem ser grandes oportunidades para bebês e crianças aproveitarem os espaços públicos disponíveis pela cidade. Contudo, esse momento pode se tornar uma tarefa difícil e por vezes inseguras para os pequenos e seus cuidadores.
Os desafios enfrentados para se deslocar com segurança e qualidade são muitos, indo desde calçadas estreitas e disputadas com veículos que impedem a caminhada com segurança, passando por pontos de ônibus sem assentos ou abrigo contra o sol e chuva, que transformam a longa espera pelo transporte num processo muito mais penoso. Fora as viagens de pé com crianças no colo em ônibus lotados.
Para contribuir com o aprimoramento da mobilidade e da qualidade da vida de bebês, crianças e cuidadores, o ITDP lança o estudo pioneiro sobre o tema: “Primeiros passos: mobilidade urbana na primeira infância”.
O material se desdobra em dois relatórios: o primeiro aborda a perspectiva de cuidadores sobre os impactos da qualidade do espaço urbano e da infraestrutura para mobilidade a pé na vida das crianças e a importância que os pontos de ônibus têm em seus trajetos diários. Já o segundo detalha os obstáculos e pontos de atenção para o sistema de ônibus como um todo, assim como as oportunidades e desafios para atores do poder público e operadores de transporte que atuam com as pautas de mobilidade urbana e/ou primeira infância.
Desafios para os cuidadores, oportunidades para as crianças
A caminhada, modo de transporte mais utilizado para trajetos rotineiros pelo próprio bairro, quando feita com bebês ou crianças requer o dobro de atenção por parte dos cuidadores. Para eles, andar a pé se assemelha muitas vezes a uma corrida de obstáculos.
Entretanto, apesar dos desafios, caminhar é um momento interessante para fortalecer a relação e conexão das crianças com a cidade. Os espaços públicos naturalmente possuem uma série de estímulos sensoriais que contribuem com os processos de aprendizagem e desenvolvimento integral infantil. Esses fatores poderiam ser potencializados por meio de mobiliários e elementos lúdicos, como a presença de cores e texturas em muros, em bancos, no chão ou em objetos presentes nas calçadas, escadas ou pontos de ônibus, e na presença de vegetação de baixo porte e paisagismo.
As viagens de ônibus são uma oportunidade para que bebês e crianças saiam dos espaços restritos em que vivem e acessem espaços de lazer, como parques e praias. Porém, para os cuidadores, andar de ônibus, acompanhados de crianças, significa adequar suas rotinas e se programar para contornar os desafios encontrados. Tal como identificar os melhores pontos para uma espera confortável e segura, sair com antecedência para esperar por um ônibus mais vazio e dar preferência para embarcar naqueles em que os motoristas colaborem com um embarque agradável.
Para bebês e crianças, apesar de todos os obstáculos encontrados pelos cuidadores, esse momento pode ser de divertimento e de conexão com os cuidadores se o serviço e a infraestrutura do sistema de ônibus forem mais receptivos às suas necessidades.
Prover maior prioridade ao serviço de ônibus, aprimorar a integração do sistema com outros modos de transporte, assim como viabilizar treinamentos para as equipes responsáveis pelas operações são algumas medidas que ajudariam a aprimorar as infraestruturas de mobilidade e garantir sistemas de transporte público mais sensíveis à primeira infância.
As reflexões do estudo são baseadas em uma série de entrevistas semiestruturadas com cuidadores e atores locais do município de Recife. Os relatórios trazem recomendações específicas para a cidade, mas também recomendações gerais que podem ser exploradas por outras cidades brasileiras que desejem avançar no tema. O objetivo é que tragam elementos que sirvam de inspiração e referência para a construção de uma mobilidade urbana cada vez mais sensível e adaptada à primeira infância.