Ação piloto do programa A Caminho da Escola, promovido pela Prefeitura com o apoio do ITDP, torna o trajeto de crianças e adolescentes mais confortável e tranquilo
Com a retomada das aulas e o aumento da circulação das crianças nas ruas, as medidas de segurança no trânsito ganham ainda mais urgência. Somente entre janeiro e agosto de 2021, o SUS já totalizou mais de seis mil crianças e jovens hospitalizados em estado grave devido a atropelamentos no Brasil.
Buscando reverter esse cenário, como parte do aperfeiçoamento do programa A Caminho da Escola 2.0, a Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET-Rio), com apoio do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) e da FIA Foundation, implantou uma intervenção piloto em Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. A ação tornou a Rua Capitão Teixeira e os quarteirões próximos mais seguros e confortáveis para as crianças e adolescentes irem à escola e outros equipamentos públicos da região.
A rua foi escolhida por dar acesso às escolas municipais Ciep Frei Veloso e Escola Municipal Stella Guerra Duval. A região foi selecionada com base no número de sinistros de trânsito entre 2016 e 2020 e na quantidade de equipamentos públicos no entorno. Segundo o Ministério da Saúde, as mortes no trânsito são a principal causa de morte entre crianças na faixa etária dos 5 aos 14 anos no Brasil.
Em setembro de 2021, a CET-Rio e o ITDP realizaram atividades com os professores e os estudantes para mapear os principais desafios que enfrentam no caminho de casa até a escola. Incluir as crianças no planejamento dessas ações possibilita que elas se sintam pertencentes à cidade. A sensibilização quanto ao tema da segurança viária faz com que os pequenos sejam multiplicadores de boas práticas para além do ambiente escolar.
Foi identificado que mais de 60% dos alunos entrevistados fazem o trajeto até a escola a pé e demandam um ambiente viário mais seguro e menos hostil, pois sofrem com velocidades excessivas de veículos particulares e desrespeito dos motoristas. O trajeto fica ainda mais conflituoso com automóveis estacionados nas calçadas, que obrigam as crianças a disputarem espaço nas ruas com os veículos em circulação.
Para contornar esses desafios, foi proposta uma reorganização do espaço da rua no entorno das escolas considerado o mapa de risco desenhado pelos alunos e os dados coletados pelos técnicos da CET-Rio. A intervenção na Rua Capitão Teixeira irá contar com um conjunto de medidas e elementos de acalmamento do tráfego para reduzir os conflitos viários e induzir o comportamento seguro por parte de motoristas, ciclistas e pedestres. A largura das faixas de circulação de veículos será reduzida para estimular o respeito ao limite de velocidade de 30 km/h, além disso, serão implantadas sinalização horizontal e vertical para reforçar a prioridade dos ciclistas, que circulam em grande número na região.
Interseção das ruas Capitão Teixeira e rua do Esquilo, que dá acesso à E.M. Stella Guerra Duval, antes e depois da ação
A atividade também prevê novas faixas de pedestres para possibilitar que os alunos atravessem as ruas com mais segurança e extensões serão implantadas nas esquinas para melhorar a visibilidade e reduzir a distância de cruzamento. Alguns trechos de estacionamento serão utilizados para alargar as calçadas e permitir que se adequem ao intenso fluxo de pedestres da rua, que conta com forte presença de pequenos comércios.
Danielle Hoppe, Gerente de Mobilidade Ativa do ITDP, acredita que o desenho da infraestrutura viária é um fator essencial para a educação da população, induzindo o comportamento adequado no trânsito e ajudando a reduzir o número de mortos e feridos. “Se o nosso sistema de transportes prioriza os usuários mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida, todos os outros usuários estarão mais seguros”, pontua a especialista.
Situação atual e simulação da nova sinalização horizontal na rua Franklin Távora, no acesso do CIEP Frei Veloso
Próximos passos
A intervenção permanente em Realengo é a primeira de uma série de ações que a CET-Rio planeja fazer a partir do programa A Caminho da Escola 2.0. A expectativa é a expansão das intervenções no entorno das escolas e fazer com que as crianças participem efetivamente da melhoria do espaço público e que a segurança viária passe a ser tema de discussão nas escolas.
Resultados
Em 2022, o ITDP sistematizou em um relatório as principais etapas do planejamento e da implantação da ação piloto em Realengo, apresentando seus principais resultados. O processo de planejamento e implantação do piloto serviu como subsídio para a expansão do programa por parte da CET-Rio, que em 2022, começou a implantar ações similares em outras áreas da cidade.