Estruturada junto ao Mitigation Action Facility, proposta conta com apoio do Ministério das Cidades, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Catalytic Finance Foundation e C40 Cities
O alto custo de veículos e infraestrutura é a principal barreira à transição para ônibus elétricos nas cidades brasileiras. Esse desafio percebido por financiadores e operadores encarece o financiamento e retarda a adoção da tecnologia limpa, mantendo o Brasil atrás de vizinhos como Chile e Colômbia no processo de transição energética.
Em vista desse contexto, um novo fundo de crédito em estruturação pelo WRI Brasil, o ITDP Brasil e o BTG Pactual busca construir um cenário favorável à descarbonização do transporte público no Brasil, financiando a aquisição de mais 1.700 ônibus elétricos por operadores do transporte público. O fundo é parte do projeto “Ônibus elétricos e transformação industrial no Brasil: acelerando a transição justa e verde”, proposta liderada pelo WRI Brasil e co-liderada pelo ITDP Brasil, e que está em preparação para ser submetida ao Mitigation Action Facility, programa multidoadores que fornece apoio técnico e financiamento climático para projetos de mitigação ambiciosos em setores prioritários.
Estruturada em parceria com BTG Pactual, Ministério das Cidades e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e em cooperação técnica com Catalytic Finance Foundation e o C40 Cities, a proposta segue em fase de detalhamento até maio de 2026. Caso seja implementada, tem o potencial de evitar 2,7 milhões de tCO2e enquanto contribui para a transição justa e a qualidade de vida nas cidades.
Em um anúncio durante o Fórum de Líderes Locais da COP30, o BTG Pactual, selecionado como gestor financeiro do mecanismo em um processo conduzido pelo WRI Brasil e pela Catalytic Finance Foundation, se comprometeu em aportar 24 dos 80 milhões de euros necessários à operação do fundo. O Mitigation Action Facility também planeja um aporte de 16 milhões de euros, destinado à camada de perdas iniciais, favorecendo a atração de novos investimentos.
Capacitação, indústria e transição justa
As cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro e Salvador devem ser as primeiras cidades a acessar o fundo, que inclui, além do mecanismo financeiro, componentes de assistência técnica, fomento a políticas públicas e à indústria nacional. Essas alternativas visam garantir as condições não apenas para os investimentos dos operadores, mas para que o processo deixe um legado positivo para as cidades, a indústria e o país.
À frente do componente de equidade de gênero e inclusão social, o ITDP Brasil realizou um diagnóstico do setor para elaborar um Plano de Ação de Equidade de Gênero e Inclusão Social (GESI, na sigla em inglês). “O mecanismo está sendo projetado com as melhores práticas de Equidade de Gênero e Inclusão Social (GESI) em seu núcleo. Esses princípios não são complementos, mas pilares fundamentais. Isso significa criar oportunidades tangíveis para as mulheres em toda a cadeia de valor do transporte público — desde a fabricação de ônibus até as operações — e melhorar a qualidade do serviço para tornar o transporte público verdadeiramente inclusivo para todos”, disse Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil.
“A eletrificação da frota não é apenas uma mudança tecnológica — é uma transformação estrutural que exige coordenação entre governos, empresas e o setor financeiro. O fundo ajuda a alinhar esses atores e criar um ambiente propício para a transição”, explica Magdala Satt Arioli, gerente de Descarbonizaçao do Transporte do WRI Brasil.
“Possibilitar a transição para modelos elétricos é essencial para melhorar a qualidade de vida de milhões de cidadãos e ajudar o país a entrar no caminho para atingir a neutralidade de emissões em 2050”, disse Luis Antonio Lindau, diretor do programa de Cidades do WRI Brasil. “Mecanismos de blended finance, como este fundo, são fundamentais para tornar a eletromobilidade uma realidade.”
O projeto está na Fase de Preparação Detalhada do Mitigation Action Facility. Trata-se de etapa competitiva, e a decisão do Conselho do fundo sobre o financiamento e a implementação sucederá uma ampla avaliação da proposta em 2026.
O projeto é financiado pelo Mitigation Action Facility em nome do Ministério de Meio Ambiente, Ação Climática, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha, do Departamento de Segurança Energética e Emissões Líquidas Zero do Reino Unido, do Ministério do Clima, Energia e Serviços Públicos da Dinamarca, da União Europeia e da Fundação Children’s Investment Fund (CIFF).


