Hoje é Dia Internacional da Mulher. Dentre tantos temas urgentes no debate sobre gênero, há uma questão sobre a qual temos nos debruçado no ITDP Brasil: a mobilidade das mulheres.
Caso você nunca tenha pensado sobre isso, pode parecer que a mobilidade urbana e seus condicionamentos relacionam-se a padrões de deslocamento que variam apenas de acordo com a territorialidade e a oferta de sistemas de transporte. Mas a verdade é que o acesso à cidade – a forma como navegamos no território – não é neutro quanto ao gênero.
Isso acontece porque as atividades desempenhadas por homens e mulheres são socialmente diferentes, de forma que elas são as principais responsáveis pelo trabalho doméstico e pelo cuidado com a família nuclear e estendida. Em dupla jornada, são as mulheres as responsáveis pela ida ao mercado, pelo auxílio aos membros da família em idade avançada, por buscar e trazer crianças na escola, pelos cuidados com a saúde de todos.
Tudo isso é facilmente verificável no cotidiano e também nas pesquisas sobre mobilidade. Diversos estudos demonstram que as mulheres utilizam o transporte público coletivo com mais intensidade do que os homens e se deslocam mais a pé. Para aquelas que precisam se deslocar a partir das periferias, a vida na cidade pode ser profundamente desafiadora.
Pesquisa da ActionAid com 306 mulheres moradoras de áreas periféricas em Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Paulo e Rio de Janeiro demonstrou que a falta de segurança restringe mobilidade de forma muito efetiva: 75% das entrevistadas revelaram que já desviaram seu trajeto por conta da escuridão da rua; 70% já deixou de sair de casa em determinado horário por receio de sofrer algum tipo de assédio. Becos, praças, paradas de ônibus e vias públicas são considerados lugares inseguros por mulheres de todas as localidades.
Ajudar a construir cidades equitativas é parte essencial de nossa missão, portanto estamos nos dedicando a compreender com maior clareza quais as assimetrias de acessibilidade e padrões de circulação entre homens e mulheres. Por tudo isso, e porque acreditamos que as oportunidades urbanas devem ser acessíveis a todos e todas, estamos trazendo o recorte de gênero para nossas análises e pesquisas sobre mobilidade. Isso é algo que podemos fazer concretamente agora.
Outras coisas que estão ao nosso alcance já vêm sendo feitas. O ITDP Brasil conta com três diretoras e uma equipe composta por homens e mulheres em número equilibrado. Também contribuímos com a paralisação de mulheres, que acontece hoje em escala global, reconhecendo que as mulheres de nosso time têm direito de interromper suas atividades ao longo do dia de hoje e juntarem-se aos atos e marchas por igualdade de gênero.
Queremos cidades que permitam a vivência plena de suas oportunidades. Discutir mobilidade do ponto de vista do gênero é fundamental para atingirmos este objetivo.