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Déficit na oferta de transporte potencializa pobreza

Muitas das cidades mais importantes do mundo estão se expandindo rapidamente sem contar com um planejamento de transporte adequado, de acordo com dados apresentados em nova publicação do ITDP. Durante a conferência Habitat III, promovida pelas Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro de 2016, no Equador, o ITDP apresentou o relatório People Near Transit: Improving Accessibility and Rapid Transit Coverage in Large Cities. O relatório analisou a proximidade da população de 26 grandes cidades e suas regiões metropolitanas em relação à rede de transporte de média e alta capacidade, com base no indicador PNT (da sigla para o termo original em inglês People Near Transit).

O PNT é um indicador que mensura o percentual da população de uma cidade ou região metropolitana que reside em um raio de até 1 km de estações de sistemas de transporte público de média e alta capacidade. A distância de 1 km equivale a 10 a 15 minutos de caminhada. Entre as cidades avaliadas com o indicador, Paris se destaca por ter obtido uma cobertura completa de sua população, enquanto as regiões metropolitanas de Washington DC e Los Angeles ficaram entre as piores avaliações.

De acordo com Clayton Lane, diretor global do ITDP, Washington DC, Paris e Pequim são exemplos de cidades que vivenciaram uma expansão urbana para além das suas fronteiras político-administrativas, sem planos de transporte regionais efetivos. A falta de planejamento urbano para essas áreas desconsidera a população que não tem carro e ainda induz o uso do automóvel. Nesse sentido, o planejamento em longo prazo é de grande importância para a expansão da rede de transportes de média e alta capacidade de forma integrada ao desenvolvimento urbano, que além de atender mais pessoas, também colabora para limitar o avanço de mudanças climáticas.

Cada vez mais, a população de baixa renda tem se instalado nas áreas mais afastadas das cidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, de acordo com um relatório publicado recentemente pelo Instituto Brookings, a população de faixas de renda baixas residente nos subúrbios cresceu mais do que em qualquer outro lugar no restante do país, tendo registrado um crescimento de 64% nos últimos dez anos. Padrões semelhantes têm sido observados na maior parte dos países do mundo. A falta de planejamento e investimentos para a expansão da rede de transportes de média e alta capacidade nessas áreas potencializa o crescimento da pobreza, pois o muitas vezes precário serviço de transporte limita o acesso da população às oportunidades de empregos e educação.

Ao redor do mundo, poucas são as cidades que estão investindo em transportes de média e alta capacidade para atender áreas mais pobres nas regiões metropolitanas. As regiões metropolitanas em países desenvolvidos avaliadas obtiveram um PNT médio de 69% na escala da cidade-núcleo, enquanto na escala metropolitana alcançaram apenas 37%. No Brasil, as quatro regiões metropolitanas avaliadas obtiveram um PNT médio de 29% na escala da cidade, mas apenas 18% na escala metropolitana.

Por outro lado, os sistemas de transporte de média e alta capacidade de Seul e Pequim, as duas cidades mais populosas avaliadas na pesquisa, cobrem as maiores populações absolutas.  São quase 11 milhões de pessoas dentro do raio de 1km de distância avaliado pelo indicador PNT, reflexo da densidade populacional destas cidades.

Para as cidades avaliadas em países em desenvolvimento, a pontuação média do PNT foi de 40%, enquanto as regiões metropolitanas apresentaram média de 24%. Em Jacarta e Quito os sistemas de transporte de média e alta capacidade não se estenderam além das fronteiras da cidade. Quase todos os sistemas nas outras cidades avaliadas serviram apenas uma pequena fração da população que vive nessas áreas periféricas das metrópoles.

Para Clayton Lane, ignorar os problemas que acontecem fora das fronteiras municipais tem sido um comportamento comum para muitos governos. Todavia, com o passar dos anos, as regiões metropolitanas tiveram um crescimento significativo e é fundamental que  sejam contempladas com um planejamento de transporte adequado e holístico. “As cidades de hoje não existem no vácuo, todas as regiões metropolitanas possuem núcleos urbanos e comunidades em seu entorno. Para prosperarem de forma integral, o desenvolvimento da infraestrutura de transporte de média e alta capacidade precisa acontecer e, para isso, o governo estadual e os governos municipais precisam trabalhar juntos para atender às necessidades de suas populações”, conclui.

A expansão da rede de transporte de média e alta capacidade representa também uma oportunidade para avançar nas políticas para redução de emissões de gases do efeito estufa. De acordo com o relatório Cenários Globais para uma Mobilidade mais Sustentável, publicado em 2014 pelo ITDP em parceria com a Universidade da Califórnia Davis, mais de US$ 100 trilhões em gastos públicos e privados poderiam ser economizados  e 1.700 megatons de dióxido de carbono anual (CO2) – uma redução de 40% nas emissões advindas do transporte de passageiros – poderiam ser eliminadas até 2050 se o mundo expandisse as redes de transporte público associadas ao estímulo da caminhada e uso de bicicleta como modo de transporte nas cidades.

Artigo original: https://www.itdp.org/people-near-rapid-transit-metric/

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