Hoje de manhã no Rio de Janeiro mais de 50 metros da ciclovia da Niemeyer desabaram no mar, deixando ao menos 5 vítimas (algumas fatais, ainda não temos informações precisas). A ciclovia da Niemeyer é um desejo antigo dos ciclistas cariocas, tem 3,9km de extensão, 11 acessos e liga o bairro do Leblon a São Conrado.
Atualmente nas cidades brasileiras percebemos que a importância da fase de elaboração dos projetos das infraestruturas tem sido subestimada e fica em segundo plano. A legislação federal existente estimula essa prática ao permitir que obras sejam contratadas sem projetos executivos completos. Maior importância tem sido dada à agilidade de contratações, em detrimento da qualidade do projeto e muitas vezes, da segurança da população.
A ciclovia da Niemeyer é um elevado litorâneo; em uma região de alto risco e cujo projeto deve levar em conta a variação das condições do mar e prever com segurança sua resistência inclusive a possíveis eventos extremos (o que não foi o caso). Por que a infraestrutura para bicicleta recebe menos atenção e segurança do que o carro e outros modos de transporte?
No caso do incidente de hoje, a estrutura da ciclovia cedeu não após um evento climático extremo imprevisto. Foi após uma ressaca comum, frequente e previsível na orla da cidade em menos de quatros meses após a inauguração. As elevações do nível do mar já acontecem por diversas causas e fatores.
De qualquer forma já há algum tempo academia, técnicos e sociedade civil organizada (como o ITDP Brasil) alertam os governos municipais sobre como a elevação do nível do mar pode afetar as infraestruturas de mobilidade e transporte nas cidades brasileiras. Obviamente as causas exatas desse incidente – que vitimou de forma fatal ao menos duas pessoas – só serão esclarecidas após um transparente e rigoroso processo de perícia. Mas é indispensável que esse processo avalie o grau de vulnerabilidade de toda a ciclovia sendo uma infraestrutura costeira.
É imprescindível também que esse parecer e avaliação geotécnica sejam realizados de forma independente e imparcial, não pela empresa responsável pela construção da ciclovia. Muito mais do que os milhões de reais gastos na reestruturação da encosta da Niemeyer e na implementação da ciclovia, hoje ela custou vidas. Isso é imperdoável e não tem preço.