Para facilitar o amplo acesso da população às diferentes partes do território urbano, é fundamental implementar efetivamente infraestruturas de transporte público de média e alta capacidade. Esses corredores são capazes de fornecer conexões rápidas e eficientes entre áreas da cidade e entre municípios das regiões metropolitanas. Entretanto, sua implementação deve ser acompanhada pelo aprimoramento das condições de circulação a pé ou por bicicleta, considerando todo o trajeto do usuário até a entrada ao sistema de transporte.
Na maioria das cidades brasileiras, o planejamento de mobilidade urbana tem beneficiado o transporte motorizado e encorajado velocidades elevadas, colocando em risco a vida dos pedestres. De acordo com os dados do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), cerca de 40 mil pessoas por ano morrem vítimas de acidentes de trânsito no Brasil. Este problema é ainda mais delicado quando pensamos nos grupos vulneráveis na mobilidade urbana, como bebês, crianças, adolescentes e idosos. De acordo com a mesma organização, o trânsito é a maior causa de mortes acidentais em crianças e adolescentes, e a segunda maior causa entre jovens.
No estado de São Paulo, os idosos são a principal vítima de atropelamentos: um a cada três acidentes envolvendo pedestres inclui uma pessoa idosa segundo dados do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito. O comportamento dos motoristas não é o único atuante nesses casos, afinal, a forma das cidades é um dos principais aspectos que alimenta a insegurança no trânsito ao não considerar os usos e as características de seus usuários.
Como então considerar as necessidades específicas dos usuários mais vulneráveis no aprimoramento da integração de um corredor de transporte de média e alta capacidade com seu entorno?
Avenida Jacu Pessêgo atualmente
Avenida Jacu Pêssego pensada a partir do projeto
O ITDP Brasil, em parceria com a EMTU-SP e o apē estudos em mobilidade, buscou respostas a esta pergunta ao desenvolver um projeto piloto em um corredor de média e alta capacidade da Região Metropolitana de São Paulo. O projeto buscou engajar e envolver diretamente os potenciais usuários, tendo como base de análise o acesso de equipamentos educacionais utilizados por estes públicos vulneráveis. Ideias e propostas destes grupos foram coletadas para refinar o desenho no entorno do corredor, buscando aprimorar as condições e a segurança da circulação a pé e em bicicleta nos arredores de suas estações e questões de inclusão social. A colaboração da comunidade foi fundamental para o sucesso e sustentabilidade do estudo.
O BRT Perimetral Leste, atualmente em fase de planejamento, foi o corredor escolhido para este estudo. Ao conectar o município de Guarulhos com o distrito de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo, o corredor atravessa todo o município paulistano por meio de uma das principais avenidas que possui longo histórico de vítimas de trânsito, a Avenida Jacu Pessêgo. Além disso, o corredor tem potencial para promover o desenvolvimento da área, ao ligar duas regiões com concentração industrial-logística e atravessar uma região residencial predominantemente de baixa renda e alta densidade.
O relatório Rotas Seguras para a Educação desenvolvido a partir deste projeto piloto conta com recomendações gerais para planejamento de corredores de transporte quanto à potenciais obstáculos de integração e de participação social, e com recomendações específicas aplicadas ao caso do BRT Perimetral Leste.