O livro “Cidade e Movimento – Mobilidades e Interações em Desenvolvimento Urbano”, parceria entre ITDP Brasil e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), foi apresentado durante as atividades da Habitat III, em Quito, no Equador. A conferência internacional, com representantes de mais de 200 países, é uma atividade promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo reafirmar o compromisso global de urbanização sustentável com a implementação de uma nova agenda urbana.
A publicação, que está disponível também em inglês, foi o tema principal de um painel conduzido pela diretora-executiva do ITDP Brasil, Clarisse Cunha Linke, uma das coordenadoras da publicação e que também assina um dos treze artigos publicados no livro. A atividade contou com a participação de representantes do IPEA que também coordenaram a publicação; Renato Balbim e Cleandro Krause e com a presença de especialistas de três países; Laura Ballesteros, subsecretária municipal de mobilidade da Cidade do México, Tuan Kee, do Ministério do Desenvolvimento Social de Cingapura e Andriannah Mbandi, Pesquisador do Instituto do Meio Ambiente, do Quênia.
Acompanhando a tendência mundial, o Brasil chegou ao início do século XXI como um país urbano, com cerca de 82% da sua população vivendo em cidades. Em paralelo, as cidades brasileiras têm se deparado com um aumento impressionante no uso de automóveis, tendo sua frota circulante aumentado mais de 100% em dez anos (de 2002 a 2012).
Essa tendência é especialmente alarmante se for considerado que a taxa de motorização nas cidades brasileiras ainda é relativamente baixa em comparação com países mais desenvolvidos. No Brasil, o número de automóveis particulares a cada mil habitantes ainda é três vezes menor que a média europeia. Diante desse contexto, a publicação conta com uma ampla visão sobre as principais questões relacionadas com a mobilidade urbana no Brasil, como a relação entre mobilidade e segregação urbana, e busca colocar a mobilidade como lente principal para análise do espaço urbano, qualificando o debate a fim de produzir espaços mais acessíveis, sustentáveis e equitativos.
Para Renato Balbim, do IPEA, a publicação permite perceber o quanto é possível e necessário considerar políticas em áreas sociais, culturais e mesmo simbólicas se tivermos efetiva intenção de produzir transformações na mobilidade na cidade. “Os temas tratados vão além da questão do transporte: a publicação tem o mérito de trazer à tona uma visão sistêmica da mobilidade urbana, que não se circunscreve apenas aos deslocamentos diários, mas que também se estende à mobilidade social, residencial e do trabalho, entre outras”.
Usualmente, tanto nas ciências quanto nas políticas públicas, a abordagem do tema das cidades e do desenvolvimento urbano tem forte relação com os lugares de permanência, com ênfase no lugar da habitação, além dos demais lugares onde são exercidas atividades cotidianas. A distribuição de equipamentos, infraestruturas e serviços – bem como o uso do solo – organiza fortemente a análise da cidade e do urbano.
Este livro, resultado de esforços coletivos inovadores, busca colocar a mobilidade como categoria principal da análise do espaço urbano. A ideia de mobilidade aparece como parte efetivamente integrante dos processos de urbanização, que resultam em novas formas e experiências urbanas. Para Cleandro Krause, do IPEA, a questão fundamental deste livro, é a inovação. “Tratar da mobilidade urbana como um conjunto sistêmico ainda é uma inovação no campo do urbanismo e das políticas públicas. Esse tratamento, oriundo de entendimento mais filosóficos acerca da permanência e do movimento na definição das mais diversas condições da vida, abre uma nova via de abordagem para as cidades”.
A publicação busca ir além da discussão da mobilidade em si, ao promover uma leitura da mobilidade, sobretudo a partir de aspectos explicativos das condições dos lugares e das regiões. A mobilidade é vista, portanto, como um processo socioespacial, uma complexidade que se particulariza nos lugares em função de suas características sociais e espaciais – ou seja, um processo que encerra uma totalidade, mas que se define diferentemente em função da formação de cada lugar.