É ano de COP 30 no Brasil. Precisamos elevar a discussão sobre transição energética e ver mudanças concretas nas cidades. Não será possível cumprir a agenda climática sem a descarbonização do transporte público.
A emergência climática tem se agravado nos últimos anos e seus efeitos na mobilidade urbana são evidentes. É cada vez mais comum as fortes chuvas, inundações e ondas de calor afetarem negativamente a forma como as pessoas se deslocam nas cidades, impactando o tempo de deslocamento, o conforto nos trajetos, o acesso às oportunidades e a qualidade de vida da população. E nessa conta, quem mais sofre são as pessoas mais vulnerabilizadas na mobilidade urbana, como cuidadores, idosos, mulheres e pessoas negras.
À medida que os efeitos das mudanças climáticas pioram e afetam a garantia dos deslocamentos, cabe pensar em compromissos climáticos mais concretos, na viabilização de financiamento e na coordenação entre as esferas de governo para evitar que os trajetos diários sejam prejudicados ou até mesmo interrompidos nas cidades brasileiras. Nesse sentido, lançamos a versão atualizada do Índice de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas na Mobilidade Urbana (IVMU), publicado em 2018, para analisar o quão vulneráveis estão os sistemas de transporte em nossas cidades frente às mudanças climáticas. O principal objetivo é oferecer uma base comparável e simplificada para subsidiar ações concretas imediatas.
O estudo analisa como os deslocamentos das pessoas em um município podem ser prejudicados por eventos climáticos. Esse diagnóstico foi feito a partir do conceito de vulnerabilidade na mobilidade urbana frente às mudanças do clima, que considera a sensibilidade da população, das infraestruturas e dos serviços de transporte a esses eventos; e a capacidade de adaptação do município. A metodologia foi aplicada em todas as 320 cidades com mais de 100 mil habitantes no Brasil.
Como entender o IVMC
O Índice de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas na Mobilidade Urbana (IVMU) mede a propensão de um município a sofrer impactos negativos na mobilidade urbana devido a ameaças climáticas, considerando aspectos sociais, econômicos, espaciais e institucionais.
O cálculo combina dois componentes:
IVMV =
(Sensibilidade)²
÷
Capacidade Adaptativa
Sensibilidade
quanto maior, maior a vulnerabilidade do munícipio
A sensibilidade avalia como a mobilidade urbana pode ser afetada por eventos climáticos em função de fragilidades sociais, econômicas, urbanas, de mobilidade e ambientais. Essas fragilidades amplificam os impactos dos eventos climáticos nos deslocamentos.
Capacidade adaptativa
quanto maior, maior a vulnerabilidade do munícipio
A capacidade adaptativa mostra como pessoas, instituições e sistemas naturais podem se ajustar a perigos climáticos. Características econômicas, de governança e de finanças públicas podem colaborar para maiores capacidades adaptativas.
Além de sintetizar a situação de 320 cidades, o estudo mostra o quanto a mobilidade urbana é sensível a perigos climáticos e o quanto o município consegue resistir, enfrentar e se adaptar a esses eventos adversos. “Nosso objetivo é criar um parâmetro comparativo entre cidades e regiões com o intuito de ordenar prioridades de ação ao nível nacional e regional”, afirma Leonardo Veiga, gerente de projetos no ITDP e responsável por coordenar a pesquisa.
Os resultados mostram uma relação desigual entre as nossas cidades. Algumas possuem capacidade de se adaptar mais facilmente, outras são altamente vulneráveis
Distribuição relativa (%) dos munícipios entre categorias do IVMU por Região
- As regiões Norte e Nordeste concentram a maior parte das cidades altamente vulneráveis
- As regiões Sul e Sudeste apresentam um perfil heterogêneo, com municípios altamente vulneráveis e intermediários
- A região Centro-Oeste possui um perfil equilibrado, com municípios bem distribuídos entre categorias altamente vulneráveis e pouco vulneráveis
- Os estados mais críticos são Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará, Minas Gerais, Maranhão, Ceará, Amazonas, Sergipe, Amapá e Bahia
O diagnóstico aponta que as cidades entre 100 e 300 mil habitantes são as mais vulneráveis. Por outro lado, apesar dos municípios acima de 300 mil habitantes possuírem maior capacidade de adaptação, as pessoas enfrentam longos tempos de deslocamento e alta exposição a eventos extremo. Outro resultado relevante é que, ao analisar as regiões metropolitanas, verifica-se que as áreas centrais tendem a ser mais resilientes, enquanto as áreas periféricas enfrentam maiores níveis de sensibilidade e risco climático.
A avaliação busca ajudar as cidades a responderem que medidas precisam tomar para se adaptar e orientar quais políticas ou ações podem ser eficazes para impedir ou reduzir danos para as cidades, os sistemas de mobilidade urbana e para a população. Por isso, além de oferecer resultados, o índice também apresenta recomendações focadas para o Governo Federal, para as regiões metropolitanas e estados brasileiros, além de orientações para as cidades com base no número de habitantes.


