O projeto Ilha Pura, localizado no bairro da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, é um dos principais empreendimentos imobiliários em construção na cidade. Contemplando nesta etapa 31 edifícios de 17 andares, este empreendimento será utilizado como Vila dos Atletas durante os Jogos Olímpicos de 2016, tendo suas unidades habitacionais comercializadas e entregues a proprietários privados após o evento, em um modelo semelhante ao utilizado pelo governo municipal nos Jogos Panamericanos de 2007.
Créditos das fotos: Imagens de divulgação (www.ilhapura.com)
Ilha Pura foi planejado como um produto imobiliário de alto padrão, que contempla uma série de características que o associam a um modelo de projeto sustentável, possibilitando inclusive o pleito da certificação LEED for Neighborhood Development, voltada para projetos de “bairro sustentável”, fornecida pelo Green Building Council.
Porém, apesar de contemplar aspectos de projeto associados à sustentabilidade ambiental (eficiência energética, gestão de recursos hídricos e resíduos sólidos), o modelo de empreendimento proposto no Ilha Pura não traz contribuições significativas a uma mobilidade urbana mais sustentável. Ele segue um modelo de projeto que vem sendo proposto nas últimas décadas para região da Barra da Tijuca (ex. Península), voltado para conveniência da posse, utilização e dependência de automóveis nos deslocamentos cotidianos.
“Em oposição ao Conjunto Nacional, projetado e construído há décadas, Ilha Pura é um projeto atual e ainda está em construção. Mas, apesar de alguns avanços em termos de projeto, especialmente em relação à arquitetura verde, ele não traz avanços para a cidade em relação à mobilidade e reproduz práticas que contribuem pra crise de mobilidade que vive atualmente o Rio de Janeiro“, explica Luc Nadal, Diretor Técnico de Desenvolvimento Urbano do ITDP.
Arquiteto e urbanista (DPLG) pela Ecole d’Architecture de Paris – La Villette, Luc Nadal possui doutorado em Planejamento Urbano pela Universidade de Columbia. Antes de ingressar no ITDP, ele colaborou em inúmeros projetos de planejamento urbano e design, incluindo o Parque La Villette e do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Pesquisador Mombusho da Universidade de Kyoto no Japão, Luc já lecionou nas Universidades de Columbia, New School University e Parsons School of Design (NY), nos Estados Unidos.
Apesar da relativa proximidade em relação às estações do futuro corredor de BRT TransOlímpica, em algumas situações específicas estas ficam praticamente no limite de uma distância adequada à caminhada (1km). Seu ambiente interno reune características favoráveis à deslocamentos a pé e de bicicleta. Contudo, sua precária inserção urbana induz a utilização do carro. Ilha Pura está sendo construído em uma área não ocupada previamente (greenfield) e com um entorno não desenvolvido (Compactar), contribuindo para a quase ausência de destinos e/ou oportunidades acessíveis à pé. Localização isolada, ausência significativa de atividades complementares, uso estritamente residencial (Misturar), pouca conectividade com o espaço público (Conectar) e o grande espaço destinado à circulação e ao estacionamento de automóveis (Mudar) tornam o Ilha Pura pouco orientado ao transporte sustentável.
Além disso, a ausência de Habitação de Interesse Social impede que o empreendimento contribua para promoção da inclusão e da diversidade social (Misturar). Por esses fatores, Ilha Pura não pode ser considerado um exemplo de boas práticas em Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte (DOTS). O infográfico acima apresenta os principais aspectos de projeto que contribuem para a não qualificação do Ilha Pura como um exemplo de boas práticas de DOTS no Brasil.
“Ilha Pura será composto por 31 torres residenciais. Contudo, da perspectiva do público externo, o empreendimento formará o equivalente a um gigantesco e único bloco, cercado por muros e grades, como um enclave urbano. Há poucos pedestres no entorno, não só pelo tecido urbano pouco desenvolvido, mas também totalmente orientado ao uso do carro. Não surpreende o fato de Ilha Pura não ter atingido a pontuação mínima de acordo com o Padrão de Qualidade TOD“, complementa Luc Nadal.