No último dia 21 de fevereiro, o ITDP Brasil promoveu o evento Café com MobiliDADOS com o objetivo de apresentar o atual contexto da mobilidade urbana a partir de indicadores presentes na plataforma MobiliDADOS e promover discussões a partir de experiências locais e nacionais de uso de dados para planejamento e gestão da mobilidade urbana. O público presente foi formado por mais de 80 participantes do poder público, sociedade civil, agentes financiadores, setor privado e academia de oito cidades e quatro regiões metropolitanas.
No total, oito convidados colaboraram em dois painéis, que trouxeram os temas “Experiências locais e nacionais para planejamento, monitoramento e avaliação da mobilidade urbana” e “Inovação e uso de grande volume de dados para planejamento e gestão de mobilidade urbana” com o intuito de inspirar novas práticas e fortalecer redes de aprendizado.
Para Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil, a geração de dados é um avanço, pois além de ser importante para a análise e planejamento de melhorias na mobilidade urbana, eles aproximam outros interlocutores, como os financiadores e a sociedade civil.
Além do público presente, o evento foi transmitido ao vivo para outros interessados, que também puderam participar da discussão por meio de enquetes virtuais.
Sobre a MobiliDADOS
Lançada em 2017 e atualizada em 2018, a plataforma MobiliDADOS contém indicadores de 26 capitais brasileiras, do distrito federal e de nove regiões metropolitanas. A plataforma nasceu da intenção de fornecer uma ferramenta com dados em acesso livre para contribuir com o processo de formulação, incidência, monitoramento e avaliação de políticas públicas de mobilidade urbana. De acordo com Bernardo Serra, gerente de políticas públicas do ITDP Brasil, “a plataforma tem foco em indicadores que possam ser comparados para diferentes cidades e regiões metropolitanas, facilitando o entendimento do contexto de cada geografia em relação às demais áreas urbanas do país”.
Painel #1: Experiências locais e nacionais para planejamento, monitoramento e avaliação da mobilidade urbana
O primeiro painel teve como finalidade compartilhar iniciativas inovadoras de geração de dados para planejamento, monitoramento e avaliação de políticas de mobilidade urbana e discutir os desafios para a consolidação de um panorama nacional do setor.
“Nós tornamos obrigatória a produção e a distribuição dos dados para qualquer operador de qualquer serviço de mobilidade na cidade. É um primeiro passo para a gente construir uma cultura de geração e publicização de dados”, Sideney Schreiner, diretor executivo de planejamento da Mobilidade do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira. No ICPS, braço técnico da Secretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura do Recife, Sideney coordena o desenvolvimento do Plano de Mobilidade Urbana do Recife.
“A noção de acessibilidade complementa o conceito de mobilidade urbana porque ela olha para todos os deslocamentos potenciais que as pessoas podem fazer. O conceito de acessibilidade diz respeito à facilidade com a qual a pessoa alcança determinado destino”, Rafael Pereira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O pesquisador analisa em seus estudos como as políticas de transporte e desenvolvimento urbano influenciam a organização espacial das cidades, os padrões espaciais de mobilidade e suas implicações para a desigualdade social.
“Todo ano a gente recalcula os indicadores de acompanhamento da implementação do plano de mobilidade . Isso é um termômetro pra gente saber se a coisa está andando ou não, e por que não está”, Elizabeth Gomes, diretora de planejamento de informação da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans). Atua nos projetos estratégicos da BHTrans e da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte relativos à mobilidade urbana.
“O Brasil é um país extremamente diverso e é bastante difícil a gente produzir indicadores nacionais a partir de informações municipais. Essa é uma agenda importantíssima que a gente tem que avançar enquanto federação, afinal, o tipo de informação que nós precisamos só é possível se for produzido de forma federativa”, Claudio Stenner, coordenador de geografia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Painel #2: Inovação e uso de grande volume de dados para planejamento e gestão da mobilidade urbana
O segundo painel focou em iniciativas de uso de grande volume de dados para embasar estratégias de planejamento, monitoramento e avaliação de políticas de mobilidade urbana.
“Em dado momento, nós chegamos à conclusão de que ou nós fazíamos coisas que busquem gerar impacto e que comunicassem o novo paradigma da mobilidade, mesmo se arriscando a errar, ou nós iríamos passar quatro anos discutindo questões super ricas mas que de fato não reverberavam na vida da cidade”, Luiz Alberto Saboia, secretário da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos de Fortaleza (SCSP). Responsável pelo Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (PAITT) e líder técnico dos Programas de Segurança Viária e Cidades Saudáveis.
“Temos uma ferramenta interna chamada painel do ônibus, que nos ajudou a desenvolver os nossos 500 quilômetros de faixa exclusiva. A partir dela, conseguimos encontrar onde eram os trechos de maior retardo das linhas e priorizar as intervenções que geram maior impacto no tempo de viagem no transporte público”, José Aparecido Marques de Gouveia, analista de gestão da São Paulo Transportes S.A. (SPTrans). Atua no setor de transporte público de passageiros desde o início dos anos 80, e participou dos principais desafios da SPTrans no aproveitamento dos dados gerados pelos sistema de transporte público.
“O governo sozinho pode até fazer alguma coisa, mas faz num ritmo muito mais lento e com bem menos qualidade do que quando ele se abre para a sociedade e coloca a colaboração na mesa”, Daniela Swiatek, co-fundadora do Laboratório de Inovação em Mobilidade da Prefeitura de SP (Mobilab). Daniela é especialista em inovação em mobilidade urbana e governo, tendo trabalhado no Brasil em governos municipal, estadual e federal e para a União Europeia em projetos internacionais de pesquisa.
“O fato do PENSA estar na Casa Civil, muito perto dos secretários, somado ao decreto de acesso aos dados facilitava alguns processos. Além disso, a equipe contratada sempre pensava em soluções computacionais para os problemas e assim os processos de gestão eram mais econômicos e eficientes”, João Meirelles, que trabalhou como cientista de dados na iniciativa Sala de Ideias da Prefeitura do Rio de Janeiro (PENSA). Atualmente é Doutorando na Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, onde realiza análises de dados, modelagem matemática e simulações para entender as dinâmicas do metabolismo urbano.
Confira as fotos do evento: