A Avenida Brasil, uma das vias mais importantes do país e responsável pelo maior fluxo viário da cidade do Rio de Janeiro, acaba de ganhar um novo corredor de BRT. Após dez anos em obras, a inauguração do TransBrasil é um marco, pois amplia a oferta de transporte de média e alta capacidade para as pessoas, principalmente residentes nas Zonas Norte e Oeste da cidade, além de moradores da Baixada Fluminense.
Lançado em 2012, o serviço de BRT na capital fluminense começou a operação com o TransOeste, seguido do TransCarioca e TransOlímpica. O TransBrasil, entretanto, se destaca por estar localizado numa região estratégica e emblemática para a cidade em escala metropolitana.
A Avenida Brasil corta 26 bairros da cidade onde vivem, em sua maioria, pessoas de baixa renda; por isso, a inauguração de um novo corredor de transporte na região, além de facilitar o deslocamento das pessoas, pode redefinir o próprio uso da via que, segundo o Plano de Segurança Viária, foi quarta via com maior número de sinistros de trânsito fatais por km entre 2018 e 2021. Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP, comenta sobre a importância da transformação da paisagem e da ocupação urbana na região: “Os novos grafites que colorem as estações já mostram como um ambiente que antes era cinza, ganhou uma nova estampa. Novos corredores de transporte podem também incentivar a construção de empreendimentos comerciais e residenciais, alavancando o desenvolvimento econômico e social desta parte da cidade”, comenta a especialista.
Além da importância para quem reside na região, a avenida é o local de passagem para milhares de pessoas diariamente, o que a torna a principal via expressa da cidade. Seu fluxo diário conta com milhares pessoas que vem de outros municípios para estudar, trabalhar, ter lazer ou acessar serviços básicos. Por essas razões, o TransBrasil possui importante relevância metropolitana, exemplificados também por estudos da CET-Rio que apontam que a maioria dos ônibus que circulam na Avenida Brasil nos horários de pico são de linhas intermunicipais.
“Neste momento, a integração metropolitana é o principal ponto de atenção em relação ao corredor TransBrasil”, comenta Henrique Silveira, Membro do Conselho Diretor do ITDP. “Como ainda não há ônibus articulados disponíveis para iniciar a operação de linhas intermunicipais de BRT, parte das pessoas que vem da Baixada e de outras cidades da Região Metropolitana continuarão no engarrafamento. E não são poucas pessoas: 49% das pessoas da Região Metropolitana utilizam o transporte público para vir trabalhar no Rio diariamente”, alerta o especialista. Por essas razões, é primordial que o Governo do Estado se mobilize para viabilizar a implantação de veículos que atendam as estações ao longo da Avenida Brasil para que essa melhoria chegue para todas as pessoas.
As definições pendentes por parte do Governo do Estado do Rio de Janeiro também impactam na realização de obras para incluir os terminais Margaridas e Missões no corredor, além da definição de como será a chegada dos articulados que vão operar no corredor de BRT até a Central do Brasil. É imprescindível que a integração metropolitana seja realizada, pois somente ela garantirá rapidez, conforto e qualidade nos deslocamentos para toda a população que acessa a cidade do Rio de Janeiro pela Avenida Brasil. Diversas análises já calculam o impacto positivo considerando as conexões da metrópole, com destaque para:a
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), aponta que a operação metropolitana plena do corredor pode beneficiar até 58% da população da cidade, aumentando o acesso às oportunidades de emprego em 23% para as pessoas de mais baixa renda.
A MobiliDADOS, plataforma do ITDP, aponta que cerca de 95 mil pessoas com renda até 1 salário terão mais oportunidades de deslocamento por estarem próximos às estações.
Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, a operação do corredor tem potencial de reduzir o tempo de viagem da população que mora na cidade do Rio em até 50%, no horário de pico.
O TransBrasil irá facilitar a integração em diversos pontos da cidade, atendendo quem mora na Zona Oeste e os ramais de trem em Paracambi, Santa Cruz e Deodoro. Também terá integração com o VLT e com os ônibus que levam para a Zona Sul e a Grande Tijuca. |
As potencialidades em relação à redução do tempo de deslocamento, a facilidade para acessar oportunidades e a integração entre outros sistemas de transporte (como ônibus convencionais, trem e VLT), também depende que a operação do sistema seja confiável e rápida. É essencial que o tempo de espera nas estações e terminais seja curto, e que a integração da tarifa seja possível para todos os usuários do sistema.
Além disso, é importante destacar que as mudanças e benefícios do novo corredor precisam ser comunicados de forma precisa e transparente para a população. Qualquer novidade na operação de serviços de ônibus interfere no dia a dia das pessoas. Por essas razões, é imprescindível que qualquer mudança em linhas de ônibus que circulam pela Avenida Brasil seja realizada de maneira progressiva pela Prefeitura e Governo do Estado, de modo a não causar grandes transtornos no cotidiano dos passageiros.
A implantação e operação completa do corredor irá tornar o sistema de transporte da cidade do Rio de Janeiro mais democrático e equitativo, cumprindo o seu potencial para reduzir as desigualdades sociais e facilitando os deslocamentos em transporte público. Outras recomendações do ITDP sobre o tema podem ser encontrados em materiais já lançados, como o Guia de Planejamento e o Padrão de Qualidade BRT.