Em agosto de 2014 o ITDP Brasil, em parceria com a Secretaria de Conservação da Prefeitura do Rio de Janeiro (SECONSERVA) promoveu a oficina Ruas Completas ao Longo do BRT Transcarioca: oficina de desenho e segurança viária, com objetivo de analisar o entorno de duas estações do BRT TransCarioca, Cardoso de Moraes/Viúva Garcia e Mercadão de acordo com os princípios do Desenvolvimento Orientado ao Transporte (TOD, da sigla em inglês para Transit Oriented Development) e de desenho viário propostos pela NACTO (Nacional Association of City Transportation Officials) no Guia de Desenho de Ruas Urbanas (Urban Street Design Guide).
Por meio de apresentações, discussões, visitas de campo, análise e proposta conceitual, os participantes elaboraram estudos preliminares para o redesenho do entorno das duas estações, de forma a incorporar os princípios do TOD e o desenho de Ruas Completas. Para facilitar a oficina de três dias, que teve a participação de representantes das secretarias municipais de Obras, Transporte, Conservação, Urbanismo, Patrimônio e Ordem Pública, além de outros profissionais que trabalham com transporte e planejamento urbano, o ITDP Brasil convidou o especialista internacional Michael King.
Michael King é um arquiteto americano especialista no desenho de “Ruas Completas”. Ele foi responsável pelos projetos das primeiras ruas compartilhadas dos Estados Unidos. Dentre seus principais trabalhos, participou da elaboração da estratégia de Ruas Completas e Sustentáveis de Chicago, supervisionou a criação do guia NACTO de desenho viário e projetou as instalações para bicicletas do maior sistema de BRT da Ásia, em Ghuangzou, na China. Foi o primeiro profissional a ocupar o cargo de Diretor de Moderação de Tráfego da cidade de New York e atualmente é um dos diretores da Nelson\Nygaard Consulting Associates.
“Em sua origem, a rua não era apenas uma via de acesso a um local e, sim, o próprio local. Um espaço para se estar, passar o tempo, interagir com outras pessoas. Essa lógica original das ruas como espaços públicos de convivência e bem-estar voltou à tona de 10 anos para cá”, explica Michael King.
Os participantes foram divididos em quatro grupos e levados para visita das duas áreas de estudo. Durante o levantamento de campo, realizaram uma auditoria das áreas de estudo, observando e fotografando sete elementos básicos: usos do solo; espaço do pedestre; travessias de pedestre; ciclovias; transporte público; sinais de trânsito; veículos particulares.
No segundo dia, os participantes analisaram os espaços urbanos existentes, sentidos de circulação viária e o fluxo de pedestres, e elaboraram estudos preliminares para as duas áreas com o objetivo de requalificar o entorno das estações de BRT Transcarioca Mercadão (em Madureira) e Cardoso de Moraes/Viúva Garcia (em Ramos), focando especialmente no acesso de pedestres às estações.
“São as pessoas que caminham, acessam serviços e o transporte público. Não podemos esquecer que até 2030 a perspectiva é de que 90% da população brasileira viva em cidades. Precisamos centrar o desenho urbano nas pessoas e lembrar que a rua deve ser vista como espaço de convivência e bem-estar”, destaca a arquiteta e mestre em planejamento urbano Danielle Hoppe, Gerente de Transporte Ativo e Gerenciamento de Demanda do ITDP Brasil.
Todos os estudos preliminares, desenhos e visualizações geradas a partir desta oficina para as áreas de estudo encontram disponíveis no relatório Ruas completas ao longo do Transcarioca: oficina de desenho e segurança viária. Como atividade extra, os participantes foram convidados a acompanhar uma simulação in loco de medidas de moderação de tráfego, com a utilização de cones para reduzir o espaço de circulação destinado aos automóveis e criar ilhas para a travessia de pedestres. Três áreas-piloto foram selecionadas nas proximidades do Centro Administrativo São Sebastião (CASS), no bairro da Cidade Nova, para o exercício (veja abaixo na Galeria de Fotos).
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Ruas Completas ao Longo do Transcarioca
Todo material produzido durante o encontro foi consolidado em um relatório contendo informações detalhadas, incluindo as imagens, dados técnicos e principais tópicos apontados pelos participantes. Como parte do exercício, os grupos ainda elaboraram uma tabela que considerou quais as agências/órgãos responsáveis pela implementação das propostas e qual a sua essência: regulamentação, desenho e conservação. Assim, é possível entender a complexidade de diálogos necessários para a implementação da proposta como um todo. Acesse aqui o relatório na íntegra.
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Além disso, o BRT Transcarioca traz consigo a oportunidade para a cidade desenvolver socioeconomicamente as regiões que ele cruza, por meio da adoção de medidas de Desenvolvimento Orientado ao Transporte (Transit-Oriented Development, ou TOD na sigla em inglês) no entorno do corredor, como o adensamento no entorno das estações (pelo menos 1 km de distância), os usos mistos (residencial, comercial, serviços e lazer), o estímulo ao modos à pé e de bicicleta, e medidas de desestímulo ao uso do carro (redução da oferta de estacionamento, criação de zonas 30 e redesenho viário com a abordagem de “ruas completas”). Saiba mais sobre as recomendações do ITDP Brasil relativas ao corredor BRT Transcarioca no relatório Análise de Impacto do BRT Transcarioca na Mobilidade Urbana no Rio de Janeiro.
A expectativa do ITDP Brasil e dos participantes é que o corredor Transcarioca se torne um exemplo inspirador para outras cidades brasileiras, incorporando as recomendações elaboradas na oficina, que visam a qualificação do espaço urbano e consequente melhoria na qualidade de vida da população.
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