Realidade do sistema de transportes do Rio de Janeiro exige medidas urgentes capazes de melhorar o acesso às oportunidades
A crise nos sistemas de transporte e as restrições de circulação impostas pela pandemia de Covid-19 trazem uma série de desafios para a nova gestão municipal na cidade do Rio de Janeiro. O transporte público já vinha expondo a maior parte da população a condições precárias de circulação e o retrato que temos hoje é de um sistema ainda mais ineficiente, com infraestrutura mal distribuída no território, baixa frota circulante e alto tempo de espera nos pontos de embarque. Lidar com uma realidade tão complexa demanda medidas urgentes capazes de melhorar o acesso às oportunidades que a cidade oferece, como escolas, hospitais, empregos e opções de cultura e lazer.
Com o objetivo de orientar a nova gestão municipal, o ITDP Brasil compilou no documento O Carioca e o Transporte fatos e propostas para que a nova equipe garanta melhorias na qualidade de vida da população e ofereça deslocamento barato, seguro, justo, limpo, confiável, e que incentivem a mobilidade a pé, por bicicleta e por transporte público.
Durante os seis primeiros meses de gestão, a Prefeitura irá desenvolver seu plano de metas para os próximos quatro anos. Neste período, ações de caráter emergencial também precisam ser rapidamente implantadas, demonstrando o comprometimento efetivo com a mobilidade urbana sustentável.
A seguir são apresentados quatro pontos de partida que devem ser priorizados para o enfrentamento dos desafios que a nova gestão tem pela frente e que podem fazer desse período um marco positivo para a mobilidade na capital fluminense.
#1 Ampliar a infraestrutura cicloviária como resposta à pandemia
O uso da bicicleta é considerado uma forma inteligente, segura e sustentável de mobilidade em diversas cidades, além de ser recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2020, o corpo técnico da Prefeitura já discutia junto com a sociedade civil e a academia propostas experimentais para ampliar a infraestrutura cicloviária da capital fluminense como resposta à pandemia de Covid-19.
Os critérios para definir os locais das rotas incluem a garantia do acesso a equipamentos de saúde, educação e emprego, além do aproveitamento da cobertura de bicicletas compartilhadas já existente e o número de pessoas a serem beneficiadas. Com base nesses parâmetros, foram definidas as ciclorrotas experimentais que conectam o Largo do Machado e a Tijuca ao Centro, que têm potencial para beneficiar mais de 80 mil pessoas.
#2 Implementar o Ciclo Rotas Centro
Além das rotas mencionadas no #1, também precisa implementar o Ciclo Rotas Centro, plano desenvolvido em 2012 que prevê 33 quilômetros de novas rotas cicláveis no Centro do Rio. O Ciclo Rotas faz parte do projeto municipal Distrito Neutro Centro, que visa implementar uma zona de baixa emissão de carbono na região. A iniciativa já é adotada em diversos países e tem impactos significativos na qualidade do ar e na saúde da população local.
#3 Expandir as vias prioritárias para ônibus
A priorização do transporte público nas vias é uma medida fundamental para melhorar a qualidade das viagens mais longas com o distanciamento social necessário. A confiabilidade e atratividade do sistema de ônibus já apresentava quedas consecutivas nos últimos anos. O agravamento desse quadro em função do risco de contágio reforça a necessidade de estratégias que estimulem o transporte público para desacelerar a tendência de adesão ao carro particular, o que pode aumentar ainda mais os engarrafamentos.
A ampliação das faixas exclusivas para ônibus é uma medida capaz de aumentar a agilidade das viagens, garantir maior frequência e possibilitar a segurança sanitária. A medida pode ainda contribuir para maior confiabilidade do sistema e para a redução da emissão de poluentes.Com base em dados de GPS e GTFS coletados antes da pandemia de Covid, sugerimos a implantação de 107 quilômetros de faixas exclusivas e prioritárias na cidade, com destaque para o corredor TransBrasil, que tem potencial para reduzir desigualdades socioterritoriais não só na cidade como também na região metropolitana.
#4 Otimizar a gestão da mobilidade
Para garantir a efetiva melhoria da qualidade das viagens, a gestão municipal deve pautar a tomada de decisões baseada em evidências. Desta forma, o monitoramento e a transparência dos dados existentes sobre bilhetagem, GPS da frota e GTFS, alinhados com a participação popular, nortearão ações adequadas às necessidades locais. Ao lidar com um cenário desconhecido, como o pandêmico e pós pandêmico e com escassez de recursos, é importante que a nova gestão se aproprie o quanto antes das ferramentas e informações disponíveis para realização de medidas certeiras e efetivas.