O BRT TransCarioca é o primeiro corredor de transporte público que conecta transversalmente a cidade. O corredor cruza áreas densas e bem consolidadas, com um déficit histórico de transporte público de qualidade. Atende 27 bairros das zonas norte e oeste do município, ligando o Terminal da Alvorada (Barra da Tijuca) ao Aeroporto Internacional Tom Jobim (Ilha do Governador). Ele conta com 47 estações e 39 km de vias segregadas, integrando-se aos sistemas de trens metropolitanos e metrô, essenciais para o acesso à região central da cidade e a outras localidades dentro da Região Metropolitana, e ao BRT TransOeste, que realiza a conexão com a extrema zona oeste do município.
Considerando a importância deste corredor para a cidade como um todo, o ITDP Brasil realizou uma pesquisa para analisar o impacto da sua operação na mobilidade urbana do Rio de Janeiro. Foram realizadas, durante o mês de dezembro de 2014, 1.005 entrevistas com usuários do sistema. E ao longo de 2015, a equipe trabalhou nos dados coletados para entender o impacto do sistema nos padrões de mobilidade da população, na qualidade do serviço prestado, nas despesas com transporte dos usuários e nas emissões atmosféricas da cidade. Os resultados encontrados foram publicados na íntegra no relatório Análise de Impacto do BRT TransCarioca na Mobilidade Urbana do Rio de Janeiro.
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A partir dos resultados obtidos neste análise, o ITDP Brasil elaborou uma série de recomendações para o aprimoramento da operação do sistema e para a potencialização de seus impactos positivos. O corredor deve ser visto não somente como uma solução isolada de mobilidade para as áreas que atende, mas como um eixo indutor de desenvolvimento urbano capaz de contribuir para a consolidação de uma cidade mais justa e equilibrada em termos sociais e ambientais.
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Em um segundo momento, a intenção da equipe foi analisar a equidade da distribuição de impactos do BRT TransCarioca. “A questão que nos intrigava era: as pessoas de baixa renda, que mais utilizam o transporte público, passaram a ter mais acesso à cidade depois da implementação do BRT TransCarioca? Quisemos investigar que diferença este corredor está fazendo na vida delas”, explica Gabriel Oliveira, coordenador de transporte público do ITDP Brasil, engenheiro e mestrando em Engenharia de Transportes pela COPPE/UFRJ.
Dentre os entrevistados, 64% tem renda mensal de até 2 salários mínimos. Usuários com renda superior a 4 salários mínimos representaram 5% do total, e 10% dos entrevistados afirmaram não ter renda.
Dos usuários com renda de até 2 salários minímos (64% do total de entrevistados), 20% deles passou a realizar novas viagens. “Em outras palavras, eles tiveram um incremento real de acessibilidade e mobilidade na cidade. Isso significa que eles terão mais acesso às oportunidades, atividades, bens e serviços que a cidade do Rio oferece. Acesso a transporte público e inclusão/exclusão social estão diretamente relacionados”, analisa o coordenador.
Esse grupo também é o que mais gastava – e ainda gasta – tempo se deslocando pela cidade. Após o BRT TransCarioca, houve uma redução no tempo médio de viagem destas pessoas, que ficou mais próximo a média de tempo gasto pelos demais níveis de renda. Antes, os usuários do nível mais baixo de renda, gastavam 9 minutos a mais do que a média e 18 minutos a mais que o nível de renda mais alto. Após a implementação do BRT TransCarioca, eles reduziram em 4 minutos e 9 minutos, respectivamente, o tempo de viagem.
“Os bairros atendidos tem um perfil sócio-econômico bem variado. Barra da Tijuca, por exemplo, concentra oportunidades de trabalho e possui renda superior aos demais bairros atendidos. Madureira e Penha são mais residenciais e possuem renda média mais baixa. De forma geral, a pesquisa mostra que houve uma distribuição equitativa dos impactos sobre todos os níveis de renda, colaborando para reduzir as desigualdades nos padrões de mobilidade dos diferentes grupos sócio-econômicos”, explica Gabriel.
No grupo com nível de renda superior a 4 salários mínimos (5% dos entrevistados), 25% deixou de utilizar automóvel particular e migrou para o BRT. Este grupo realiza (proporcionalmente) mais viagens fora do horário de pico e menos vezes ao longo da semana. Apesar de apontarem uma redução de gastos com transporte, são os que demonstram maior insatisfação com a qualidade do serviço prestado.
Os usuários que se declararam sem renda (10% dos entrevistados, formado por estudantes e desempregados, por exemplo), formam o grupo que realiza viagens mais curtas. Estes foram o que sofreram maior impacto por conta da implementação do sistema tronco-alimentado. “Eles passaram a fazer maior número de baldeações. Com isso, há ganho de tempo no corredor, mas também há maior tempo gasto nos trechos complementares, como por exemplo, nas linhas alimentadoras. Ao final, eles ainda tiveram uma redução no tempo total da viagem, mas comparativamente aos demais grupos analisados, essa redução foi menor. Ou seja, eles foram os menos beneficiados no quesito tempo de viagem”, conclui Gabriel Oliveira.
Esquema dos trechos de uma viagem completa do usuário no BRT TransCarioca. Fonte: ITDP Brasil
A infraestrutura de transporte é um dos principais ativos que as cidades podem oferecer aos seus cidadãos. No Rio e na região metropolitana, o investimento no sistema de BRTs, na expansão do metrô, a requalificação do trem não são somente urgências que precisam ser entregues o mais rápido possível. São também, e principalmente, grandes oportunidades de desenvolvimento e redução da desigualdade. “O BRT TransCarioca já tem este potencial. Para aumentar seus impactos positivos, são necessárias políticas públicas que priorizem progressivamente os níveis de renda mais baixos e que desestimulem o uso do transporte individual nos níveis de renda mais altos“, conclui Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil.
Assim é possível transformar nossas cidades em lugares mais prósperos e com melhor qualidade de vida, que limitam o espaço do carro e que investem em transporte público de qualidade. O ITDP Brasil acredita que aumentar o acesso e a oferta de transporte público de qualidade é oferecer acesso à cidade, e uma das formas mais efetivas para reduzir a desigualdade social tão presente nas cidades brasileiras.
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Saiba mais:
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Análise de Impacto do BRT TransCarioca na Mobilidade Urbana do Rio de Janeiro
Os resultados presentes no relatório demonstram a capacidade do BRT de induzir a circulação de passageiros e aumentar os níveis de acessibilidade dos bairros atendidos. De fato, 20% dos entrevistados não realizava viagens no itinerário do sistema. Assim, em última análise, o BRT pode contribuir para a dinamização econômica e uma maior interação social. Tendo como base os resultados obtidos pela análise, o ITDP Brasil elaborou uma série de recomendações técnicas, que também estão presentes no relatório. Essas recomendações visam à transformação urbana e melhoria na qualidade de vida de uma cidade que se propõe a reverter sua situação atual de mobilidade.
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Mapa Interativo de BRTs do Rio de Janeiro
A pesquisa mapeou uma série de pontos de atenção, todos georreferenciados, ao longo dos quatro corredores do BRT da cidade: dois já em operação, TransOeste e TransCarioca, e dois ainda em fase de implementação, TransOlímpico e TransBrasil. O ITDP Brasil também fez registros fotográficos e detalhou recomendações técnicas nos principais pontos. No mapa é possível localizar de forma georreferenciada cada ameaça, oportunidade e recomendação encontrada pelo estudo.
O mapa também traz uma série de informações extras, e os pontos encontrados pela pesquisa e as recomendações do ITDP Brasil foram divididos em quatro categorias: bicicleta e pedestre, planejamento urbano (TOD), operação e integração modal e segurança viária.