A eletrificação da frota de ônibus do transporte público coletivo é uma das estratégias mais eficazes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e melhorar a qualidade do ar nas cidades brasileiras. Além dos benefícios ambientais, a adoção de ônibus elétricos traz ganhos diretos para a saúde pública e melhora significativamente a qualidade de vida urbana. Os ônibus elétricos também são uma oportunidade para tornar o transporte público mais eficiente, atrativo e sustentável, incentivando o seu uso e reduzindo o uso de veículos particulares.
No entanto, apesar dos benefícios serem evidentes, ainda existe um mito de que a eletrificação é distante ou inacessível para a realidade brasileira. O mais recente estudo do ITDP, desenvolvido em parceria com a Scipopulis e apoiado pelo Ministério das Cidades, Acelerando a Transição: Estratégia para Eletrificar a Frota Brasileira de Ônibus até 2030 revela o contrário. O estudo identifica que, nas maiores regiões metropolitanas do país, mais de 14 mil ônibus a diesel poderiam ser substituídos por elétricos sem grandes impactos na operação vigente. Essa substituição pode acontecer a partir de uma estratégia que focaliza os investimentos públicos e prioriza a renovação dos ônibus mais velhos e poluentes.
A pesquisa foi dividida em três etapas:

Apresentação dos fabricantes, tipologias e modelos de ônibus elétricos disponíveis no mercado brasileiro, visando a constituição de uma estratégia de eletrificação do transporte público que considere a oferta de ônibus do mercado.

Análise de dados operacionais de 18 sistemas de transporte público para avaliar a operação de cada veículo a fim de determinar seu consumo energético e seu potencial de substituição por ônibus elétricos.

Estimativa de redução de emissões e seu respectivo impacto econômico com a substituição da frota proposta.
Mais de 14 mil ônibus podem ser substituídos
O objetivo inicial da pesquisa era analisar os 52 sistemas de transporte das 21 maiores regiões metropolitanas do país, porém devido à precariedade ou indisponibilidade das informações necessárias, apenas 18 sistemas de transportes, entre municipais e intermunicipais, possuíam a estrutura de dados necessária para a investigação.
Foram identificados 46.236 veículos existentes nesses sistemas, dos quais 37.395 estão em operação. A partir da análise dos padrões de viagens, 14.146 dos ônibus a diesel, em operação, já podem ser substituídos por elétricos, pois possuem o consumo energético compatível com a autonomia dos ônibus elétricos disponíveis no mercado nacional. Essa substituição não exigiria aumento de frota, reestruturação de linhas ou mudanças profundas na operação, tornando o cenário, do ponto de vista operacional, mais factível. Isso porque essa abordagem foca na substituição dos veículos com mais de cinco anos e com tecnologias obsoletas, com Euro III e Euro V.
Em termos absolutos, os sistemas de transporte público coletivo de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Belo Horizonte são os sistemas com maior potencial de eletrificar sua frota.

Impacto climático e econômico
A substituição desses veículos pode evitar a emissão de 437,7 kt de CO₂eq por ano representando uma redução de 24,6% das emissões de gases de efeito estufa atuais desses sistemas. Calcula-se que, a cada 1% da frota substituída, as emissões diminuem 1,37%. Isso gera uma economia anual estimada entre R$ 54,4 e R$ 62,1 milhões, considerando apenas o Custo Social do Carbono, o que amplifica a viabilidade econômica da eletrificação de ônibus no longo prazo.
Essa mudança tem potencial para impactar 41% da população brasileira e melhorar 50% da frota de ônibus urbanos em operação, a partir da focalização e da priorização propostas pelo estudo.
Recomendações para uma política pública focalizada
Os resultados do estudo indicam caminhos concretos para fortalecer as políticas públicas de descarbonização do setor de transporte, com foco em ampliar a eficácia do investimento público e os benefícios socioambientais no médio/longo prazo. Os desafios enfrentados ao longo da pesquisa e os dados gerados se transformam em propostas de ação que não apenas buscam viabilizar projetos de eletromobilidade em todo o país, mas, de forma mais ampla, contribuir para uma gestão mais transparente e eficiente dos sistemas de transporte público coletivo. As propostas incluem:

Gestão e governança de dados: melhorar a regulação e a estrutura técnica dos municípios para garantir acesso e uso qualificado dos dados operacionais de transporte.

Infraestrutura de recarga adequada: adotar estratégias de recarga compatíveis com os padrões reais de operação dos veículos, evitando sobrecustos ou investimentos subutilizados.

Compras públicas coordenadas: promover coordenação entre União, estados e municípios para dar escala e previsibilidade à aquisição de veículos elétricos, otimizando custos e estimulando a indústria nacional.
Insumos para o Governo Federal aprimorar suas políticas de renovação de frota
O estudo tem papel estratégico e contribui para potencializar as políticas de descarbonização do transporte público em curso no Brasil, como o programa de Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano (REFROTA), no âmbito do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC). Ao identificar a quantidade de ônibus diesel passíveis de serem eletrificados em cada um dos sistemas analisados, o estudo também aponta caminhos estratégicos para que o Governo Federal tenha mais clareza sobre o montante de recurso a ser disponibilizado, de forma sistemática, para financiar a aquisição de veículos elétricos e a implantação da infraestrutura correlata. Além disso, o material ganha ainda mais relevância no contexto da COP 30, que será realizada esse ano em Belém, ao posicionar o Brasil como potencial protagonista na agenda climática global e reforçar seu compromisso com a transição para uma mobilidade urbana de baixo carbono.
Faça o download do estudo
O estudo, resumo executivo e uma apresentação com os principais resultados estão disponíveis no site do ITDP Brasil.

