Gerir os dados do transporte público, eletrificar os ônibus e reduzir as mortes no trânsito são políticas capazes de melhorar significativamente a qualidade de vidas nas cidades
As discussões sobre a mobilidade urbana estão amadurecendo. Estamos testemunhando novos desafios que exigem soluções mais ousadas e inovadoras, mas que dependem de amadurecimento e capacitação técnica de gestoras e gestores públicos e uma articulação entre os setores públicos, a iniciativa privada e a sociedade civil.
O ITDP desenvolveu uma trilogia de guias temáticos com soluções tecnológicas para as cidades enfrentarem os principais entraves para melhorar a eficiência do transporte público, reduzir a emissão de gases poluentes e diminuir as mortes no trânsito.
Estruturar a gestão de dados
O transporte público coletivo permite que as pessoas acessem atividades de trabalho, estudo, saúde, lazer, entre outros. No entanto, para funcionar de maneira eficiente, é fundamental que o sistema seja planejado e operado com base nas demandas das pessoas. É nesse contexto que se faz necessária a gestão de dados. Esse conjunto de práticas e processos envolve a coleta, armazenamento, análise e utilização de informações para subsidiar o funcionamento e a operação do sistema de transporte, com foco em atender às necessidades da população e promover a mobilidade urbana sustentável.
Entretanto, a gestão de dados nas cidades brasileiras ainda é um desafio por questões técnicas, operacionais e contratuais. Infelizmente, as regras contratuais são frágeis e não possuem normas que especificam como os dados devem ser compartilhados, acessados ou entregues. Como resultado dessa precariedade, o poder público tem pouco controle sobre os dados gerados pelo sistema, acarretando pouca transparência e uma concentração dessas informações em empresas de aplicativos, dificultando que tomadores de decisões criem políticas baseadas em evidências.
Para auxiliar o setor público, o ITDP Brasil desenvolveu o guia Soluções para Incentivar a Gestão de Dados no Transporte Público. O estudo propõe soluções para alguns dos desafios enfrentados para estruturar e aprimorar a gestão de dados. As soluções são baseadas em iniciativas e boas práticas nacionais de cidades que possuem esforços notáveis no tema. Além disso, o material traz um retrato da gestão de dados, a partir de uma pesquisa inédita do ITDP nas 21 regiões metropolitanas mais populosas do país.
Eletrificar o sistema de transporte público
Outro ponto fundamental para melhorar a qualidade do sistema de transporte público é investir em soluções para diminuir as emissões de gases poluentes. Isso porque, só em 2022, o setor de transporte emitiu 216,9 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (GtCO2e), sendo 47% só do transporte de passageiros, e 42,3 mil toneladas de material particulado (MP2,5). Essas emissões contribuem diretamente para o aumento da poluição, resultando em mais pessoas com doenças cardiovasculares e respiratórias, e também com o agravamento da crise climática e o aumento da frequência de eventos climáticas extremos.
Encontrar soluções que contribuem para a diminuição das emissões de gases poluentes é um dever urgente de gestoras e gestores públicos comprometidos em aprimorar os sistemas de transporte público de forma sustentável e equitativa. Uma solução em potencial e cada vez mais importante é a substituição de ônibus urbanos por veículos zero emissões, como o ônibus elétrico. Ônibus elétricos são benéficos do ponto de vista ambiental, social e econômico. Eles tornam as viagens mais confortáveis e seguras, pois são mais silenciosos, estáveis e com melhor desempenho térmico, tanto para passageiros quanto para os motoristas.
O guia Soluções para Incentivar a Eletrificação do Transporte Público traz um panorama do comprometimento das cidades brasileiras com a descarbonização do transporte público e elenca soluções para os problemas que cidades brasileiras estão enfrentando para avançar nesse tema, desde o alto custo inicial de aquisição de veículos e da infraestrutura de recarrega até a falta de engajamento da sociedade.
Promover a segurança viária
É impossível construir cidades eficientes e sustentáveis, se não forem seguras para as pessoas. Por isso, é outra medidafundamental é garantir o aumento da segurança viária no espaço urbano.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o trânsito ainda mata cerca de 1,2 milhões de pessoas ao ano, representando a maior causa de morte entre crianças de 6 a 29 anos. No Brasil, a situação é pior. Sinistros de trânsito representam a sexta maior causa de morte, o equivalente a mais de 30 mil mortes e 160 mil pessoas feridas ao ano. Não podemos chamar esses eventos de acidentes. As mortes no trânsito são consequências da falta de um sistema planejado e pensado na segurança de todas as pessoas. O erro humano pode acontecer, mas o sistema de mobilidade deve ser pensado para que esses erros não causem ferimentos graves ou a mortes de nenhuma pessoa.
No guia Soluções para Incentivar a Segurança Viária, o ITDP apresenta o conceito dos Sistemas Seguros, onde a responsabilidade pelos ferimentos e mortes não é somente de quem dirige, caminha ou anda de bicicleta, mas também é compartilhada com as pessoas que planejam, constroem, gerenciam e fiscalizam a cidade. O material traz também estratégias para que gestores e gestoras públicos considerem a vulnerabilidade do corpo humano na formulação de políticas públicas de segurança viária e busquem minimizar o impacto e a gravidade de erros que levam aos sinistros no trânsito.
Esperamos que os guias forneçam subsídios técnicos para que as cidades consigam capacitar suas equipes técnicas e avancem concretamente com a construção de uma mobilidade urbana mais eficiente, sustentável e segura.