A Oficina de Troca de Experiências em BRT, realizada em setembro de 2017 pelo ITDP Brasil, gerou contribuições significativas sobre os principais desafios e questões transversais identificados por gestores e operadores, no planejamento e gestão de sistemas BRT. Neste primeiro post, exploramos o tema da integração na gestão e governança.
O desenvolvimento de um sistema BRT deve partir de uma abordagem integrada ao planejamento e gestão da rede transporte da cidade ou região metropolitana, que possibilite à população acessar atividades presentes no território com mais facilidade. Durante a Oficina de troca de experiências em BRT, foram detectados três níveis de integração no planejamento e gestão destes sistemas, que devem ser considerados de forma adequada.
Em primeiro lugar, foi apontada a importância de engajar, durante o processo de planejamento, técnicos envolvidos em etapas posteriores do projeto, como as de execução das obras e operação, e de outros setores, como desenvolvimento urbano e segurança pública. Esta integração intra e interinstitucional (mencionada em 50% dos casos discutidos na oficina de troca de experiência) garantiria um intercâmbio de expertise, a compatibilização de agendas e a detecção de eventuais riscos e pontos de melhoria que poderiam surgir após o início da operação. Dentro das empresas operadoras, foram destacados o engajamento das equipes de operação e a manutenção no planejamento dos serviços. Esta necessidade de integração também é percebida pelos agentes de seleção e financiamento dos projetos, que mencionaram planos de engajar estes atores ainda nas etapas de discussão sobre a viabilidade dos mesmos.
Em segundo lugar, foi destacada a integração de planejamento e gestão entre governos estaduais e municipais (mencionada em 29% dos casos), em especial no contexto metropolitano. A integração entre o ente estadual e municipal é decisiva para garantir a integração intermodal, a gestão integrada da operação do sistema de transportes e a adoção de medidas contingenciais. No entanto, foi ressaltado que a integração interfederativa muitas vezes sofre descontinuidades, o que compromete a tomada de decisão integrada no planejamento e operação dos sistemas. Neste sentido, de acordo com as discussões em torno da definição de autoridades metropolitanas de transporte e desenvolvimento urbano, almeja-se a necessidade de uma mudança mais profunda de governança metropolitana.
Por fim, destaca-se a integração na tomada de decisão entre órgãos gestores, empresas operadoras de sistemas de BRT e de outros modos (mencionada em 79% dos casos), especialmente no planejamento operacional. Alterações no serviço de um corredor, nas linhas alimentadoras, nas formas de integração e na organização de terminais intermodais devem ser acordadas entre estes atores para não prejudicar os deslocamentos dos usuários.
Neste tipo de integração, foi mencionada a manutenção de reuniões periódicas e/ou designação de pontos focais para atualizações a fim de garantir a troca de informações. Complementarmente, em projetos de expansão da infraestrutura, a empresa operadora e representantes dos outros modos podem aportar sua experiência para prever e analisar pontos de melhoria antes de sua conclusão.
Nos últimos dez anos, o Brasil dobrou a extensão de corredores de BRT. Espera-se que mais prioridade ainda seja dada ao transporte coletivo, para que as cidades e regiões metropolitanas brasileiras sigam no caminho de uma mobilidade sustentável. A partir das questões transversais identificadas na Oficina de Troca de Experiências em BRT, estratégias como a integração de planejamento e gestão devem ser adotadas para o aprimoramento dos projetos de BRT já concluídos e projetos a serem desenvolvidos.
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