As primeiras cidades, datadas de 3.500 AC, inauguraram espaços feitos para encontros, trocas e interações entre pessoas. No decorrer dos séculos, as cidades foram se adaptando de acordo com novos padrões de densidade, zoneamento e transporte. Mas foi no século XX, ou mais especificamente no pós-guerra, que as cidades começaram a mudar radicalmente. Com o surgimento do automóvel, sua valorização enquanto bem de consumo, e a rápida disseminação do seu uso, houve uma inversão total: as cidades foram adaptadas e desenhadas para acomodar as viagens de automóvel. As cidades para pessoas passaram a ser cidades para carros.
Mais carros levam a maior congestionamento, poluição, consumo de combustível e emissões de gases de efeito estufa. Se a quantidade de viagens de carro acompanhar o mesmo ritmo do crescimento da população, os ganhos com a eficiência do combustível e tecnologias mais limpas serão anulados por velocidades menores e os motoristas continuarão presos nos congestionamentos.
Como agir para reduzir os congestionamentos gerados pela motorização, falta de planejamento urbano adequado e pelas políticas de transporte que priorizaram o automóvel durante décadas? Em termos gerais, a abordagem que visa lidar com essa problemática tem sido chamada de gerenciamento de demanda por viagens. A noção por trás das políticas de gerenciamento de demanda é relativamente nova para as cidades e seus governantes. Seu principal objetivo é buscar soluções para o crescente aumento dos congestionamentos e os problemas associados a eles, não ampliando a oferta de vias, mas administrando com eficiência os deslocamentos e os meios de transporte disponíveis na cidade.
Assim, a ideia é que as viagens de carro possam ser mantidas em níveis suportáveis para as vias disponíveis, por meio das políticas de gestão da demanda por viagens (GDV), limitando tanto a circulação de carros quanto o estacionamento. Ou seja: medidas como a adoção de parquímetros, áreas de estacionamento limitado, pedágios urbanos, zonas com velocidade controlada (como as Zona 30), dentre outras. Para que uma estratégia de GDV seja eficaz, é necessário contar com incentivos positivos (medidas para “atrair” usuários para meios de transporte mais sustentáveis) e incentivos negativos (medidas para “afastar” usuários da utilização do automóvel). Se for adotada apenas uma medida para atrair, como por exemplo, promover meios de transporte ativos (à pé e de bicicleta), sem agir em relação ao uso do automóvel, não se conseguirá o efeito esperado. O mesmo ocorre com a adoção de uma medida para afastar: sozinha, ela não terá o efeito desejado. Por isso, é importante combinar tanto as medidas para afastar quanto as destinadas a atrair. Uma eficiente gestão da demanda por viagens é fundamental para qualquer cidade que busca racionalizar o uso do automóvel e assim, aumentar a qualidade de vida de seus habitantes.

Medidas para afastar: Preços dos combustíveis, cobranças pela propriedade do automóvel, pedágio urbano, gestão de estacionamento, redução do uso do carro e da velocidade, planejamento urbano integrado, fiscalização, criação de restrições regulatórias.
Medidas para afastar e atrair: Redistribuição dos perfis das vias com espaços para pedestres, ciclistas e ônibus; sincronização do tempo nos cruzamentos com semáforos que favoreçam andar à pé e de bicicleta; participação popular e campanhas de comunicação / marketing.
Medidas para atrair: Investimentos em melhorias nos sistemas de transporte público, infraestrutura para bicicletas e pedestres, conscientização dos cidadãos, criação de mais opções de mobilidade, investimento em um desenvolvimento urbano mais misto e compacto.
O ITDP define a gestão da demanda por viagens como “um conjunto de estratégias destinadas a mudar o padrão de mobilidade das pessoas (como, quando e para onde a pessoa se desloca) com a finalidade de aumentar a eficiência dos sistemas de transporte e alcançar objetivos específicos de política pública visando ao desenvolvimento sustentável. As estratégias de gestão de demanda priorizam o movimento de pessoas e bens em relação ao de veículos, isto é, meios eficientes de transporte como caminhar, usar a bicicleta ou o transporte público, trabalhar em casa, compartilhar automóvel, dentre outros. Por isso, atua na disseminação de informações e exemplos de boas práticas em outras cidades, contribuindo e convidando a sociedade brasileira a entrar neste debate.

Inventário e utilização de vagas de estacionamento em vias públicas no Centro do Rio de Janeiro
Só a cidade do Rio de Janeiro possui mais de 2,4 milhões de veículos em circulação; e mais de 3,9 milhões ao se considerar os 19 municípios da Região Metropolitana. A malha viária não está adaptada para acomodar tal número de veículos, levando a crescentes congestionamentos. Nesse cenário, a disputa pelo espaço público para estacionar só aumenta.
A administração pública tem pouca informação sobre a utilização, regulação e operação dos estacionamentos em via pública. A escassez de espaço e a falta de informação deixam não só limitada a oferta para visitantes de curta estadia, como representam um desafio diário para os usuários cativos de vagas. Dessa forma, estabelecer regras claras que aperfeiçoem o uso do espaço e a circulação viária e assegurar o cumprimento das mesmas, constitui um verdadeiro desafio para os agentes da cidade, a fim de melhorar o sistema de transportes como um todo.
Por isso, em 2013 o ITDP Brasil conduziu uma pesquisa base de inventário e análise de utilização do estacionamento em via pública no Centro do Rio de Janeiro, para compreender melhor a dinâmica atual do estacionamento nas vias públicas e fora das vias, determinar a taxa de estacionamento na via e identificar áreas mais problemáticas, como as com estacionamento irregular.

Seminário Gestão da Demanda por Viagens: Estratégias e Ferramentas
Em 2014, o ITDP Brasil realizou o Seminário “Gestão da Demanda por Viagens: Estratégias e Ferramentas”, que reuniu um seleto grupo de especialistas nacionais e internacionais para discutir as melhores práticas de gestão da demanda por viagens e discutir as emissões de gases do efeito estufa do setor de transporte de passageiros no Brasil. O evento contou com o apoio da Fundação Jardim Botânico do Rio de Janeiro e recursos do Governo Britânico.
Ao estimular o debate, trazer estudos de caso internacionais e oferecer capacitação técnica sobre o assunto, o ITDP Brasil e seus parceiros buscaram incluir as políticas de gestão da demanda por viagens na elaboração do plano de mobilidade urbana do Rio de Janeiro, o PMUS, e influenciar outras cidades brasileiras para que incluam essas políticas em suas agendas.
O evento foi direcionado a autoridades municipais, técnicos da área de planejamento de transportes e mobilidade urbana, e contou com mesas redondas com representantes de várias cidades brasileiras e experts internacionais, como Stuart Reid, Diretor de Gestão da Demanda por Viagens da Transport for London (TfL), mostrando os principais desafios na implementação do programa de gerenciamento de demanda nos Jogos Olímpicos Londres 2012.

Este guia pretende servir como documento de apoio e instrumento de trabalho para muitas instituições governamentais, tomadores de decisões e planejadores da área de transporte; e foi resultado de um levantamento das causas dos congestionamentos, obstáculos às políticas de estacionamento e distintas políticas de estacionamento encontradas nas 12 cidades estudadas, de cinco países diferentes: Buenos Aires, Rosário, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Santiago, Bogotá, Medellín, Cidade do México, Monterrey e Guadalajara.
Elaborado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, Despacio e ITDP, a publicação pretende apresentar uma visão geral das constatações do trabalho de campo feito nas cidades do estudo, comparando-as com as políticas de gestão de demanda por viagens e de estacionamento de diversas partes do mundo (Europa, Ásia, América do Norte), fazer recomendações e traçar diretrizes para a implementação de instrumentos e ferramentas de gestão de demanda por viagens (com foco maior nas políticas de estacionamento) para cidades da América Latina que desejem reduzir os congestionamentos, melhorar o seu desenvolvimento econômico e oferecer mais benefícios à população por meio de uma política completa de transporte sustentável.
.Luta por espaço: Os carros ocupam muito mais espaço para atender a pouco mais que uma fração do total de viagens, sendo que a maior parte das viagens de carro atendem somente a 1 ou 2 passageiros. Segundo a Confederação Nacional de Transportes (CNT), os automóveis – apesar de transportarem cerca de 20% dos passageiros – ocupam 60% das vias públicas, enquanto ônibus – que transportam 70% dos passageiros – ocupa 25% do espaço viário nas grandes cidades brasileiras. Conheça o Infográfico: Comparativo no uso do espaço.
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